terça-feira, 27 de outubro de 2009

Bons sons saídos de Guarulhos...

Domingo, onze horas da manhã, Teatro São Pedro, no Bairro da Barra Funda, na cidade de São Paulo.
Com um programa delicioso que começou com As Quatro Estações Portenhas de Piazzola, passou pelo Concerto para Mão Esquerda (Concerto nº 2) de Ravel e encerrou com Scheherazade de Rimsky-Korsacov. a Sinfonica Jovem de Guarulhos, sob a regência do Maestro Emiliano Patarra, mostrou mais uma vez o quanto este conjunto tem melhorado nestes últimos meses.
Já tivera uma ótima impressão quando os ouvi no fosso do mesmo teatro que, por ter uma boa
acústica, exige alguns truques precisos do regente para que percussão e metais não soem agressivos.
Neste concerto de domingo - e aqui não vai nenhuma pretensão além do relato expectador, saí do teatro satisfeito por ver jovens ( é uma orquestra jovem, pois não?) tocando com vontade e qualidade.
Muito bom. Muito bem.
Com pouco mais de 1 milhão de habitantes, Guarulhos está há cerca de 40 minutos do centro de São Paulo e, com sua Orquestra Jovem, está definitivamente no mapa cultural. Um bom teatro com concertos e ópera, divulgação e incentivos permanentes para este grupo e seus desdobramentos, serão certamente resultados naturais de administrações municipais sensíveis como até aqui.
Torcemos e aplaudimos.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Tudo por um novo pacto civilizatório!

O artigo "Música no Brasil é prisioneira das canções" (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2310200927.htm ) do professor Vladimir Safatle, evidencia a grave condição por que passa a cultura erudita no Brasil.

Os bens culturais - formas de expressão da identidade de um povo e provas de sua humanidade - passaram a ser tratados no domínio das mercadorias e dos estoques, por políticas públicas relativizadas pelos projetos de poder, pela ausência de planejamento e de estratégias de formação.

A audição de uma peça de Reich, Penderecki, de Almeida Prado, ou uma visita a uma exposição numa Pinacoteca, tornaram-se entendidas como experiência de entretenimento, pois esta é a leitura rasa de cultura vigente.

A Cultura erudita deixou de ser um ativo das elites pela mesma lógica mercantil que dita os destinos da comunicação de massas, do acúmulo de bens, da velocidade de projeção pessoal e uma inversão do papeis das lideranças seja nas artes, no pensamento, na política etc. É lamentável que valha mais a forma que o conteúdo, a aceitação dos modelos prontos ao debate pela construção, a resenha à investigação e observação pessoal.

É necessário um novo pacto com urgência. Nós, geração que escreve, lê, pensa, decide, precisamos ter consciência imediata da obrigatoriedade de se pactuar um novo futuro. Perdemos muito nos últimos anos pela inércia com que a atividade cultural vem sendo tratada e isto precisa ser corrigido e se transformar numa espécie de agenda civilizatória.

A constatação de Gilberto Mendes de que "a música erudita de nosso tempo não existe para a classe culta brasileira" é reflexo deste distanciamento das elites intelectuais que têm o relevante papel de pensar, formular propostas e cobrar resultados de governos, entidades e de empresas.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Mein Herz freuet sich, dass Du so gerne hillfst, ich will dem Herrn singen, dass er so wohl an mir gethan.

ridesenho de Klara Kaiser Mori para capa de " O Cigano Visionário"

O poderoso Salmo XIII, do Rei David, nos dá a dimensão dos nossos anseios em busca da beleza, da bondade e da verdade.

"Meu coração se alegra pois Tu vieste em meu socorro,
cantarei ao Senhor
pelo bem que ele me fez".

Assim seguimos com a esperança renovada de que teremos possibilidades de realização e convivência com qualidade, com ética, com respeito. Qual motivação para construir senão a certeza de que no extremo teremos um ser humano renovado?

Em Junho de 1855, Franz Liszt escreve a Agnes Street-Kindworth dizendo que decidira musicar o Salmo XIII.
Por nos dar esta possibilidade de reflexão, pode-se dizer que Lauro Machado Coelho é o arauto de um novo tempo.

É com ele que temos organizada a história da ópera em edições obrigatórias para qualquer um que queira conhecer além das fronteiras do que lhe é oferecido pelos caminhos óbvios.
E depois de lançar a biografia da poetisa russa Anna Akhmatova, finalista do prêmio Jabuti deste ano, não é que o Lauro concluiu a biografia de Franz Liszt, com mais dois lançamentos previstos até março, pela mesma Editora Algol?
Franz Liszt tem noite de estréia hoje, dia 14 de Outubro de 2009, na Livraria Saraiva do Shopping Higienópolis, em São Paulo, às 19 horas.

"O Cigano Visionário" é para se ler e reler em duas ou três sentadas (são 500 páginas de texto delicioso).

Franz Lizt foi uma mistura de malabarista e profeta na citação do próprio Lauro, ou "ao mesmo tempo cigano e franciscano" nas palavras do próprio compositor.

Lauro à sua maneira também reune estas características ao prenunciar um tempo em que a cultura erudita está em livros, em discos, no Pensamento, nos discursos, na agenda coletiva.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Mais smplicidade ajuda a resolver...

De fato, o que está em jogo é o futuro. Na experiência recente com o espetáculo Na sala com Debussy e Mallarmé (originalmente Debussy L'après-midi avec Mallarmé) virou mote do grupo a frase do Paul Valèry: O problema do nosso tempo é que o futuro não é como costumava ser.

Isto mesmo. Está em jogo um futuro que é diferente de tudo o que pensamos anteriormente. Nós temos que mover o mundo - longe de mim qualquer traço de megalomania, por favor - e isto significa repensar tudo.

É preciso pensar mais simples. É preciso maior transparência. Quem não sabe, precisa reconhecer que pode aprender com outro e, para ensinar, é melhor a experiência que a experimentação. Nosso tempo está passando muito rápido e a natureza da Cultura no Brasil precisa se reabsorvida.

Há parametros, quantificações e qualificação suficiente para se criar novos modelos e colocá-los em prática. Não dá para aceitarmos frases do tipo "não existem recursos para isto", "não podemos apostar nisto", " não temos platéia para arte erudita", "ópera não é linguagem do povo".

Este abecedário conhecido precisa ser mudado. Quem estiver à frente das decisões na área da Cultura precisa ser cobrado de visão mais abrangente. Não dá para falar em inclusão social sem pensar em inclusão cultural: uma coisa está ligada à outra e são inseparáveis.