quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Meu nome não é Johnny.

The dance of youth - Pablo Picasso

O papel das artes eruditas é principalmente favorecer a reflexão. No post anterior, neste blog, lembrei a afirmativa do Ministro da Cultura de que "é necessário preparar o país e ampliar nossa capacidade de pensar e compreender o mundo contemporâneo".

Este é sem dúvida um grande desafio.

Neste sentido, o filme, lançado em 2008, Meu nome não é Johnny - vivas a Selton Mello e Cleo Pires - como todo bom fazer artístico sugere uma enorme possibilidade de reflexão.

O que levou um jovem carioca, de classe média, com todas as condições culturais, sociais e financeiras para viver dentro de um padrão acima da maioria no Brasil, a se tornar o Rei do Rio? As ilações são as mais diversas possíveis e cada um faz sua leitura conforme lhe parece o espelho.

Não é assim nas relações humanas?

Terão sido a droga, as associações com o tráfico, o dinheiro fácil, a maneira como este ambiente parece favorecer a arrogância, o exibicionismo, a idolatria por dependência ou exclusão - coisas rasteiras da natureza humana - os mecanismos que delinearam aquele destino, modificando uma história que poderia ser traçada num modelo de equilíbrio e de menor desperdício daquelas qualidades individuais?

Muito bem. Trazendo esta mesma questão à área da Cultura, devemos estar atentos ao futuro.

O Brasil se prepara para o seu próximo passo em busca da qualidade, do aperfeiçoamento contínuo e desafiador das instituições, da continuidade das reformas estruturais e, principalmente, pelo inevitável e necessário fortalecimento das atividades de produção de Cultura.

Parece-me que há um incontrolável movimento de estruturação do saber, do acesso, da disponibilização dos "ativos" culturais. A sociedade aprende a cobrar novas posições do Estado e da produção cultural e os valores do conhecimento estão a cada vez mais explícitos.

Estes tempos colocam a arte em foco e sob holofotes. A arte e seus artistas.

Cheguei ao ponto. Nestes tempos que virão, criadores, produtores, pensadores, precisamos estar atentos ao novo pacto - digamos civilizatório - que está em curso sob a égide da ética, das relações cooperadas e associativas, da troca de informações, do compromisso com a qualidade, do respeito aos indívíduos, à criação, à formação de novos profissionais. Temos um papel importante na preparação do país e isto somente será possível se levarmos em conta a dinâmica do diálogo, da sensibilidade, da contribuição coletiva.

Afinal, que país queremos, que politicas culturais e formas de participação desejamos?

É bem provável que seja pensamento dominante a certeza de que desejamos políticas estruturantes e programas decorrentes desta nova ordem plural. O Brasil é um país de diversidade ímpar, constituído de coletivos hoje plenamente identificados, com condições institucionais que permitem avanços rápidos e seguros. Isto significa que precisamos ter clareza - e certa dose de idealismo - na condução dos próximos passos para vivermos uma verdadeira experiência republicana.

Não dá para aceitarmos o convívivio com a arrogância, o autoritarismo, nem às custas de manobras de poder, aspectos freqüentes em maior ou menor escala em algumas áreas da Cultura.

A arte é anárquica e é ótimo que seja, mas as condições para que se estabeleçam o criar e o questionar precisam de certa ordenação. Hoje - citando Paul Valèry - estamos ameaçados por duas calamidades: a ordem e a desordem.

São necessárias instituições sólidas, isentas, éticas, orientadas para o futuro, sem ocasionalidades e com status político aberto para a prática e proposição de novos temas e abordagens sob a ótica determinante do interesse público e transparência.

A tirania e a construção na mentira não devem ter espaço.

Esta é a clareza necessária ao pacto. O diálogo é a forma de construção e os corpos artísticos devem estar prontos para alimentar expectativas de cidadãos deste futuro próximo: cidadãos com aguda percepção crítica.