sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (32)

Your confort is my silence - 1981
Barbara Kruger

A medida do sucesso é sempre um problema para o artista. Na nossa lingua e cultura, o sucesso é mais associado a alguma coisa a ser conquistada.

Se pensarmos em italiano, entretanto, talvez a dimensão dada ao sucesso fique um pouco mais clara. Successo é o êxito em alguma atividade, mas é também alguma coisa que já aconteceu. Pensando assim, o sucesso só acontece a partir de alguma coisa realizada e não por algo que será feito no futuro.

Ora, desta forma compreende-se com mais facilidade que viver do sucesso é comemorar o passado e não trabalhar para o futuro. Um artista de sucesso é alguém que já fez, já realizou alguma coisa e foi reconhecido no passado. Isto não significa que será lembrado por outras coisas no futuro.

Isto ajuda a entender que ídolo, como temos tratado, é o artista que realizou e continua produzindo arte com reconhecimento de mais e mais pessoas. O ídolo não para. Tem sólida formação, ou conteúdo coerente, e permanece oferecendo às pessoas que lhe são afeiçoadas o que lhes agrada por longo período.

Por mais que o conceito seja compreendido ao atribuir ao próprio artista o resultado do seu trabalho e nisto está certo, obviamente não explica por si o conjunto de fatores que interferem na solução do problema.

O Brasil continua sem ídolos no canto lírico e parte desta responsabilidade é do próprio artista. Duro admitir, mas é um fato.



quinta-feira, 22 de julho de 2010

Nota de Rodapé (5)

La représentation - 1937
René Magritte

Como temos estréia na próxima semana, pequeno recesso de dois dias para ensaios.
Amanhã tem mais.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (21)

Antonio Mattoli
personagem deTony Ramos na novela "Passionë"

Agnelo (barítono), Alfredo (tenor), Adamo (barítono) e Agostina (soprano) só trazem confusão para o pai Antonio Mattoli (barítono) conhecido como Totó. 

Mas o Totó da novela, não "bate" muito bem. Onde já se viu querer casar com uma Clara qualquer e propor que ela use no casamento o vestido da ex-mulher morta?

Está certo. Você já deve ter ouvido um monte de histórias com estas esquisitices e se não ouviu, colecione esta primeira na ficção e vá juntando às outras que certamente vão lhe contar no futuro.

Longe da Toscana de Totó, nasceu o grande ator que o interpreta. Isto mesmo. Tony Ramos nasceu em Arapongas, no Estado do Paraná.

Uma cidade que como Londrina, do post da semana passada, é fruto da presença dos Ingleses na região onde criaram a Companhia de Terras Norte do Paraná na primeira metade do século XX dando origem a várias cidades.

Pois em Arapongas, no Estado do Paraná, onde nasceu Tony Ramos tem uma Praça Carlos Gomes. Está lá. Mas faltam dados sobre ela. Qual fã pode me mandar uma foto?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (31)

La chevauchée. Désert du Konya, Anatolie, Turquie, 1955
Jean Dieuzaide


Em termos relativos, foram poucas as respostas à pergunta "por que não temos ídolos no Canto Erudito no Brasil"?

Os e-mails e comentários recebidos (publicados ou não a pedidos) são unânimes ao darem conta de que falta uma presença maior nos meios de comunicação de massa. Alguns até propuseram que se fizesse um American Idol da ópera ou coisa parecida.

Na meu modo de ententer, sejamos francos, está no distanciamento que a ópera "conquistou" nas últimas décadas ao esconder-se atrás de certo maneirismo, um ar embolorado, recheado de italianismos. De um lado, isto atende a determinado público, quase um gueto, de outro dá um ar (ou procura atestar) acadêmico, mas, de fato, é perturbador perceber o quanto isto afasta os seres humanos comuns que compram ingressos...

É muito simples perceber isto. Basta falar com quem não vai à ópera. Inevitavelmente a resposta é "gosto muito, mas não entendo nada, por isto nunca fui".

Como os "comuns" irão entender se a liturgia é toda mistificada pelos "iluminados"?

Está bem, pesei a mão e fui irônico...

Pesei a mão e fui irônico? Voltemos ao tema.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (30 B)

Karaoke
por Li Jin *

As respostas continuam chegando, por isto o Dilemas 30 B.

Para quem não viu ainda, a pergunta é: por que não temos ídolos do Canto Lírico no Brasil?

Quais as razões que impedem (ou não) que isto aconteça?

Mantendo a questão, sugiro uma googlezelada na palavra ídolo.

Considerando este sentido, por que nossas cantoras (e cantores) não arrebatam multidões? Quais os aspectos envolvidos nesta questão?

É de fato um Dilema Contemporâneo ou apenas uma circunstância?


(*) Li Jin é um artista contemporâneo chinês, nascido em 1958 em Tianjin. Especializou-se em desenhos a tinta e lápis de cor sobre papel. Os seus temas são sempre cenas do dia-a-dia, como comer, beber, relações íntimas ou pessoas simples, retratados com humor, num estilo despretencioso e alegre, expressando a própria "joie de vivre" do artista.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (30)

La voix des airs - 1931
René Magritte

Cada um deve ter uma resposta à pergunta: Por que não temos ídolos do canto erudito no Brasil?

Pois é. Esta questão me foi entregue há dois dias assim, direta, simples, objetiva, como quem não quer nada, de "leigo" para "expert". Perguntinha óbvia, cutucante, mexendo com brios de quem respeita e acredita na atividade.
Faça um exercício. Tente responder da mesma maneira que a pergunta foi feita: de modo claro e direto.

Respostas para os comentários do blog alí abaixo.

Se vc não quiser ficar publicado nos comentários, basta dizer. Não deixe, porém,  de enviar respostas.


Falamos amanhã.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Paulo Moura 1933 - 2010*


Quem conheceu pessoalmente Paulo Moura, entende porque faço aqui uma homenagem à sua vida de tantos legados musicais.

A quem não teve esta oportunidade, fica a sugestão de incluí-lo nos seus pensamentos por um segundo que seja.



* Paulo Moura será velado no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro, amanhã, 14/07/2010.

Carlos Gomes no mapa do Brasil (20)

A Eterna Primavera
Auguste Rodin

Nascido em Curitiba, João Batista Vilanova Artigas é um arquiteto Brasileiro cuja obra integra o movimento arquitetônico conhecido como Escola Paulista. 

Artigas formou-se pela Escola Politécnica e veio a participar do grupo Santa Helena formado por artistas de vanguarda, tendo o pintor Alfredo Volpi como um dos seus principais representantes.

Nesta época de Copas do Mundo em que se discute a construção ou não de novo estádio na Cidade de São Paulo, é bom lembrar que Vilanova Artigas é quem projetou o Estádio do Morumbi, um dos exemplares da arquitetura moderna no Brasil.

Vilanova Artigas, ratificando sua origem Paranaense, projetou o edifício da antiga Rodoviária de Londrina inaugurado em 1952 e utilizado como terminal até 1988.

A Rodoviária ganhou um projeto novo de outro arquiteto Brasileiro: Oscar Niemeyer. E o antigo edificio transformou-se no Museu de Arte de Londrina, para cuja abertura em 1993 foi exposta A Eterna Primavera, escultura de Auguste Rodin que ilustra este post.

O Museu de Arte de Londrina, fica na Rua Sergipe, pertinho da Avenida Carlos Gomes, praticamente no centro da bela cidade.

Está perto da Avenida, mas longe da Praça Carlos Gomes, outro logradouro que relembra o compositor e que fica ao sul seguindo pela PR 445 - no trecho em que se denomina Rodovia Celso Garcia Cid. Nada que um bom GPS não localize com facilidade.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (29)

Lola de Valence, 1948
por René Magritte

Uma obra esgotada pode ser reproduzida em cópia reprográfica e utilizada em sala de aula? Cantar Parabéns para Você numa festa na sua casa o obriga a pagar direito autoral? Cineclube pode reproduzir dvd de ópera sem pagar direitos? Posso usar esta versão digital do quadro acima?

Até o próximo dia 28, o projeto de Lei do Direito Autoral e sua reforma pelo Ministério da Cultura ficam sob consulta pública.

Para quem é atingido diretamente pela lei ou para quem busca um nível de informação maior, vale a pena uma olhada atenta no site http://www.reformadireitoautoral.org/.

É um bom começo.

sábado, 10 de julho de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (28)

La Vie - 1903
Pablo Picasso
A Nota de Rodapé de ontem acabou refletindo em vários e-mails, comentários. Deixou de ser uma nota. Passa a ser um Dilema a partir de um diálogo que se estabeleceu com a Marli Sant Anna e o Silvio Moréia.

Quando a vida é banalizada não há como ficarmos alheios. Como fazer, ou melhor, o que podemos fazer?
Nós trabalhamos com o que há de mais precioso para a humanidade que é a livre expressão do pensamento. Temos que incorporar de alguma forma estes alertas e fazer ecoar de alguma maneira.

A Cultura é redentora da Humanidade. Redentora no sentido mais amplo: a Arte é o caminho para salvar e resgatar. É a voz.

Façamos um raciocínio simples. A Arte é a expressão pura do Belo e da Verdade. Ora, se o Belo e a Verdade são representações da Divindade, a Arte é o instrumento que aproxima a Humanidade do Divino.

A violência, o desprezo pela Vida, os extremos e radicalismos, a piada barata do descaso transformada em mote até por nossos representantes na política - aqueles que deveriam preservar a ética, a moralidade - tudo isto precisa ser negado com veemência. Precisamos assumir posições claras. Nós artistas temos que defender a Vida, o equilibrio, o Bem estar, o aprendizado.

Disse ontem que Tem dia que a Humanidade piora. A Humanidade está piorando todo dia. Isto não está certo.

Vamos abrir a boca. Vamos usar a força que temos. Em cada espetáculo, em cada apresentação, precisamos dizer que não queremos mais isto e que através da Cultura damos nossa contribuição.

Através da arte, fazemos nossa parte.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Nota de Rodapé (4)


O homem é tão bem feito, a presença divina é tão perceptível  em tudo...

O desprezo pela vida é inexplicável. Não há nada que justifique.

Para que viver senão para aprender, para tolerar, para exercitar a felicidade?

Nós, seres humanos somos felizes em nós mesmos e a sabedoria está em saber evitar a quebra desta harmonia natural, em fazer prevalecer toda a tendência possível de negar o que bom, o que é belo, o verdadeiro.

Caramba. Há dias que a humanidade piora.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Dilemas Contemporâneos da Cultura (27)

 A Sunday Morning in Virginia (1877)
by Winslow Homer

O que é isto? http://vimeo.com/12347285
Ou ainda com imaginar um rock chamado World Cup Official Song Song (Unofficial Song)  e licenciado de forma livre através do Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial 3.0 Brasil License?

E se isto foi feito num fundo de quintal, ou numa garagem e alimenta um site chamado The Sunday Morning (http://www.thesundaymorning.com/#_) onde dois irmãos se divertem nos domingos de manhã?

Isto tem chance de se multiplicar na rede como um viral?

Viral? O que é isto?

Imaginemos que cada um dos amigos do meu facebook pegue este vídeo e mande para todos os seus amigos, por pura brincadeira, ou por julgarem que tem alguma qualidade, ou só para ver no que dá. E de repente isto vira um hit, ouvido em todo o planeta, da noite para o dia, sendo descartado no dia seguinte, ou na tarde, na noite, sabe-se lá em que cybertime estaremos.

Qual o significado disto? E se ao invés de uma peça despretenciosa isto fosse uma obra com expectativas de resultados comerciais? Como funcionaria se isto fosse uma foto, ou um texto?

Como devem funcionar os direitos de autor? E de imagem?

Voltarei ao tema.

Dilemas Contemporâneos da Cultura (26)

Os Mutantes

O ato de escrever é compulsivo quando você toma gosto e os blogs são um exercício muito pertinente se você precisa de algum controle. Twitter de terceira ou sexta hora, até agora não consegui estabelecer uma relação cordial com o veículo a não ser para divulgar este blog, numa insistente metalinguagem, ou algumas twitadas do tipo twitkay (ok... inventei esta. Minha versão twitter do hay kay) ou uns microcontos (mania que peguei desde que mandei o primeiro para a ABL).

Aí está mais um dilema.

Já há muito a informação deixou de ser um arquivo, um file, uma library para se tornar uma nuvem incontrolável e em geométrica expansão. Isto mesmo: uma nuvem meteorológicamente imprecisa e supostamente imprevisível.

Se a Cultura sofria por falta de modelos e os processos de decisão estiveram por muito tempo influenciados por vetores políticos (nos governos e nas empresas patrocinadoras) ou por afinidade pessoal do gestor, agora as questões se sofisticam ainda mais.

Peguemos a música, por exemplo. Há algum tempo as gravadoras exerciam o papel seletivo oferecendo ao público aquilo que para elas constituia o chamado "produto de interesse comercial e adequado a determinado mercado". Este modelo acabou. O "mercado" - sabe-se lá quem é ele - determina o que deseja ouvir, o quanto, como, onde e o quanto vale a música produzida por este ou aquele cantor.

Quando trabalhei na Continental, detentora do selo Chantecler entre outros, lembro-me que foram várias as duplas sertanejas desejosas de um disco novo, pois isto ajudava a vender shows. Era prática corrente e óbvia que cantor sertanejo sem disco não "cantava" no rádio, e sem rádio não fazia show. Simples? Uma espécie de motocontínuo em que o disco, levava ao rádio, que levava ao show, que vendia disco.

A grosso modo, a música sobrevive (rá) de nichos em expansão. Do garoto que baixa, que ouve, que vai ao show, que conta e uma provável imensa rede possivel em torno de uma produção que dinossauros como eu preferem não imaginar, mas deixar que as idéias corram e fluam pelo prazer desta viagem interminável da criatividade humana.

A imagem do "garoto que baixa", longe de ser preconceituosa ou delimitadora, é só uma visão pueril de como se dão estes novos mecanismos que obriga a todos transitarem nestes novos formatos com a desenvoltura da descoberta, como se todos fossemos jovens em fase de alfabetização. E não é isto mesmo? Não estamos todos aprendendo a trabalhar com tecnologias antes somente pensáveis nas páginas de Flash Gordon de Alex Raymond?

Voltarei ao tema.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Carlos Gomes no mapa do Brasil (19)

Rio Inhanduí
na cidade gaúcha de Alegrete

Numa homenagem sincera aos hermanos de viola no saco tal qual a equipa canarinho como diriam os portugueses a cantar fado além-mar, dediquei-me a pesquisar algumas proximidades cartográficas.

Bingo. A rua Argentina, em Alegrete, no Rio Grande do Sul, é cercada de outras também identificadas por nomes de países sul-americanos como Uruguai, Venezuela, Colômbia, só para citar 3. Para chegar à Rua Carlos Gomes é fácil: saindo da Argentina, pega-se a Assis Brasil e virando à esquerda, vai-se em frente até a Duque de Caxias e uma das travessas é a própria.

Nesta diversão que me arrumei, acabo percebendo o quanto é fascinante a história do Brasil, a formação do nosso território e das cidades. A história de Alegrete é uma das mais vigorosas aventuras que se pode descrever, mostrando uma cidade ativa, forte, de memórias inesquecíveis.

A cidade tem 5 emissoras de rádio: Rádio Alegrete - AM, Rádio Gazeta - AM, Rádio Minuano - FM, Rádio Nativa - FM, Rádio Sentinela - FM (Comunitária). Os nomes são parte desta ilação divertida que identifica as raizes. Uma, a Alegrete, lembra Luis Teles da Silva Caminha e Menezes - o Marquês de Alegrete, que emprestou o nome à cidade. A segunda, a Gazeta, rememora as antigas rádios que se dizem de notícias. Minuano, vento cortante, frio, mas também é tribo regional. A Rádio Nativa reforça uma tipicidade gaucha onde nenhum brasileiro é mais nativo que aquele de lá. Finalmente, Sentinela, mais que vigília, certo sentimento de expectativa, introversão, solidão pampeira.

Está bem. Fui mordido pela tentativa de sentir a cidade, que não conheço, por um viés original. Se não fui, fica a outra dica: Alegrete está sobre o chamado Aquifero Guarani que apesar de lembrar a ópera de Gomes, recebeu a denominação em referência à tribo indígena. Ao mesmo tempo em que está sobre o aquífero, a maior reserva de água subterrânea do planeta, em cima, Alegrete tem na sua região, o Deserto do São João ou Deserto do Pampa. Deserto ou não-deserto porque tem chuva, a região é pródiga de possibilidades de lembranças, reconhecimento, aprendizado.

Interessante, não é? Vamos ver onde Carlos Gomes nos leva na próxima terça-feira.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Nota de rodapé (3)


O Theatro Municipal do Rio de Janeiro está realizando o Concurso Vozes do Brasil, o seu Concurso Nacional de Canto Lírico.

Os detalhes do Concurso estão no endereço http://www.theatromunicipal.rj.gov.br/vozesdobrasil.html.

O prazo final das inscrições será 20 de julho e as provas entre 16 e 21 de Agosto.

As provas eliminatórias e semi-finais acontecerão no Auditório Anexo do TM com acompanhamento de Piano. Na prova final, no dia 21 de Agosto, os cantores se apresentarão com a Orquestra Sinfonica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência do Maestro Silvio Viegas.

A Comissão Organizadora é composta por Carla Camurati, Cleber Papa, Roberto Minczuk, Rosana Caramaschi e Silvio Viegas e, em poucos dias será anunciado o júri oficial.

Todas as provas do Concurso serão abertas ao público, com entrada franca.