quarta-feira, 30 de março de 2011

Nota de Rodapé (16)

O remorso de Orestes (1862
por William-Adolphe Bouguereau (1825-1905).

Nem Alecto, nem Megaira, nem Tsífone... Ou talvez todas juntas...


Hoje no site da APTI - Associação dos Produtores Independendes, texto de Odilon Wagner acerca das discussões e polêmicas em torno do uso das Leis de Incentivo e a fúria inexplicável que estes temas têm provocado, muito além dos limites de um debate saudável. 


Infelizmente, a atividade cultural não tem consciência do que representam hoje os incentivos aos vários setores da economia. Esta distorção de entendimento supera em muito a dimensão do que é publico e privado no Brasil.


Precisamos de muita calma. muita reflexão. mais diálogo. 

quinta-feira, 24 de março de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (65)

Never give up
by Sephiel

Nos tempos do politicamente correto, muita confusão acaba aparecendo por falta de referência.

O processo civilizatório pode ser mais simples do que parece, mas é preciso pesquisar uma "solução acadêmica" para entender melhor isto, pois aqui está apenas uma opinião ao sabor da notícia -

Em determinado momento, alguém disse, em algum lugar, que não era bom cuspir no chão, foram banidas as escarradeiras das salas de visita etc. Alguém também disse que fazer xixi na rua não é uma maneira civilizada de convivência e ainda hoje, apesar dos grandes avanços nesta área, ainda as ruas são usadas como latrinas, alguns vão presos por isto.

O mesmo acontece com o processo cultural, principalmente nestes tempos em que determinadas regras vão sendo radicalizadas, tirando dos indivíduos - principalmente mais jovens - a capacidade de discernimento, do uso do bom senso. Talvez porque não saibam, porque estão em processo de alfabetização funcional, não importa. 

Fato concreto é que fenômenos coletivos são tratados muitas vezes à luz de poucas referências e as pessoas não sabem dizer o que é humor, terror - comportamentos elementares que por falta de balisas sólidas acabam sendo confusas.

Exemplo disto foi o episódio recente da ilustração do Montanaro na Folha de São Paulo sobre o que já escrevi dois "Dilemas" (63 e 64).


Num episódio de rara magnitude como esta infelicidade que atingiu toda a humanidade a partir do Japão é natural que as opiniões se dividam principalmente no que se refere à arte. No caso uma simples ilustração - uma charge - mostrando o episódio dramático e levando à reflexão. É este o ponto.


Tudo o que vemos funciona como um espelho refletindo muito mais o que pensamos do que aquilo que o autor de fato expressou e esta é talvez a leitura mais rasa que se pode fazer de tudo o que vemos na arte. No entanto, em algumas ocasiões, as pessoas se confundem, invertem a maneira de enxergar e atribuem ao autor coisas que com certeza ele não pensou. No caso do Montanaro, o desenho é amargo, com uma onda destruindo tudo, com um prédio de uma usina nuclear no meio disto tudo. Terrível, impressionante. Apesar disto algumas pessoas acharam que o autor estava brincando com o funesto episódio. Onde de fato está a razão? Naqueles que se entristeceram e enxergara ali um lamento ou naqueles que foram incapazes de visualizar a tragédia ali traçada e atribuíram ao autor a responsabilidade de ofender os atingidos pelo fenômeno? 


A natureza humana não é tão incompreensível assim e estes episódios nos ajudam a evitar juizos invertidos no futuro.


O melhor disto tudo e felizmente há sempre uma lição, é a exposição virtual Tsunami - des images pour le Japon (Tsunami - as imagens para o Japão) organizada pela comunidade virtual francesa CFSL dedicada a ilustradores e ilustrações. São milhares de desenhos e ilustrações vindas de vários países. Em 30 de Abril haverá um leilão de 50 trabalhos na galeria Arludik, em Paris.


Entre os desenhos, ondas, ondas, ondas.

terça-feira, 22 de março de 2011

Carlos Gomes no Mapa do Brasil (35)


A Chiroxiphia caudata possui uma plumagem azul-celeste, cada preta e na cabeça uma brilhante coro vermelha.

Seu nome popular deriva do tupi ata (andar) e carã (em volta), talvez por causa da dança de acasalamento em que os machos ficam em fila e se exibem para a fêmea saltitando à sua frente em pleno voo e voltando para o fim da fila, com isto criando uma espécie de circulo no sentido anti-horário. Em castelhano são conhecidos como saltarin. Se você quiser conhecer a dança, basta clicar aqui ou digitar dança dos tangarás em qualquer site de busca.

Isto mesmo, nós os conhecemos como tangarás.

Aliás o nome do pássaro é muito conhecido também por causa do Bando dos Tangarás, um conjunto de música popular formado por Almirante, Alvinho, João de Barro (Braguinha – com quem tive o prazer de conversar muito sobre música popular brasileira), Henrique Brito e Noel Rosa. Estes sagrados da música brasileira, gravaram muito samba, marchas, toadas, emboladas.

Não gravaram canções de Carlos Gomes, o que não muda em nada qualidade de sua música e repertório.

Carlos Gomes foi lembrado não pelo Bando, mas pela cidade de Araraquara, onde no Bairro Jardim dos Tangarás, está cravada uma rua com o nome do compositor.  

domingo, 20 de março de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (64)

Plantu d'aprés Hokusay
capa do Le Monde, 15/3/2011

Continua na Folha a discussão sobre a pertinência da charge de Montanaro (Dilemas... (63) na Folha de São Paulo. 

Felizmente, para referenciar o trabalho do jovem ilustrador, a Ombudsman da Folha, Suzana Singer, acrescenta a informação de que três dias após o Le Monde, um dos principais jornais do mundo, austero e consistente, publica idêntica idéia em charge também comentando na sua capa o episódio do maremoto de graves proporções que ocorreu no Japão. 

Jean Plantureux , cartunista francês que assina Plantu (divirta-se com alguns de seus desenhos), nasceu em 1951 em Paris. Seu texto e desenhos são ácidos, mordazes. Plantu assina seu trabalho com a frase Plantu d'aprés Hokusai, numa designação clara da fonte que utilizou para executá-lo.

Montanaro também deu a dica quando acrescenta "xilogravuras japonesas". 

Segundo o texto do Ombudsman da Folha, Spacca, do time de cartunistas da casa, achou a charge pertinente, mas não publicaria um desenho como o de Montanaro hoje. "Estou mais maduro. Cabe ao artista se refrear".

É provável que Spacca, quando ficar ainda mais maduro, talvez aos 60 como Plantu, tenha a perspectiva de não se limitar, de buscar ousadias, referências inéditas, soluções modificadoras. 

Ousadia não tem idade. pelo contrário, quanto mais maduro, mais o criador se deveria permitir inovações. Afinal de que adianta viver se não buscar novas formas de enxergar a humanidade, de justificar seus erros, de compreender seus infortúnios, de admitir a finitude do homem?

Montanaro foi ousado, numa idade em que se confunde ousadia com arrogância, inovação com anarquia. Para o bem da criação, torço para que a Folha continue se permitindo soluções originais. Isto é bom, é o que contribui para desenvolvimento.

Leitores não gostaram? Se refletiram a respeito, o resultado já foi pertinente.

Não podemos esquecer que tudo o que vemos nos funciona como espelho e que cada um vê ali o detalhe que mais lhe interessa. Ás vezes, enxergamos com os olhos embaçados. 

sábado, 19 de março de 2011

Nota de Rodapé (15)

Ensaio de Orquestra
Federico Fellini 

Recomendo a leitura do texto do Leonardo Martinelli no site da revista Concerto sobre a crise da OSB. 

quinta-feira, 17 de março de 2011

Nota de Rodapé (14)

Urânia e Calíope
por Simon Vouet

Hoje foi publicado no Cultura e Mercado texto em que comento a recente polêmica acerca do blog da Maria Bethânia.


Dilemas Contemporâneos da Cultura (63)

charge por João Montanaro
publicada no Jornal A Folha de São Paulo 12/03/2011

Republicada hoje na capa da Ilustrada  (Jornal Folha de São Paulo) a charge do jovem cartunista João Montanaro(14 anos) ganhou destaque por provocar reações insólitas.

Originalmente, a charge foi publicada na edição de sábado (12/3) e recebeu várias queixas dos leitores. O garoto chegou a ser chamado de "babaca" por colegas da escola onde estuda. 

Montanaro desenhou uma onda enorme carregando destroços de uma cidade. Reproduziu aquilo que à exaustão os canais de televisão, You Tube e outros endereços exibem. Porém teve um cuidado: seu desenho só não é um rabisco qualquer porque, de forma inteligente, copiou uma xilogravura de Katsuchika Hokusai cujo título original em tradução livre seria algo como A concavidade do abismo - Onda do Mar de Kanagawa. Nada mais simbólico para o que ocorre no Japão.

Não satisfeito entretanto, Montanaro põe um título:  Xilogravuras japonesas - A onda, um lembrete aos desavisados.

Isto não bastou. Mesmo assim, a leitura rasa prevaleceu. Redundam as críticas raivosas, ignorantes, com ódio.

Precisamos rapidamente criar mecanismos para reduzir o analfabetismo funcional - aquele em que o indivíduo lê sem a capacidade de discernir e criticar com solidez de argumentos o que está lendo, e, ao mesmo tempo, ampliar a alfabetização para as artes.

Tema grave. Dia destes vão processar o rapaz por plágio. 


quarta-feira, 16 de março de 2011

Dilemas Contemporâneos da Cultura (62)


À recente polêmica envolvendo a OSB juntam-se várias opiniões e artigos.

Trata-se de uma situação delicada, sujeita a vários pontos de vista, não se tratando apenas da observação de direitos e deveres, do poder de mando, ou da discussão do que cabe no modelo privado da Fundação.

A névoa das audições - é só uma névoa - está em primeiro plano, porque o estabelecimento de critérios e formas de avaliação é muito mais difícil do que parece. A essência desta discussão está nas relações de trabalho, do trabalho artístico, mas mais do que isto, concentra-se no novo modelo, em que as relações de poder mudaram radicalmente.

Já há algum tempo venho sinalizando aqui a necessidade de novos protocolos para a gestão na Cultura. Inevitavelmente, as orquestras brasileiras deverão passar por estas mudanças. 
Afinal, estamos tratando de uma necessidade premente de valorizar os profissionais da área cultural e isto exige a adoção de novos mecanismos. Vejam bem: necessidade de valorizar os profissionais e não o contrário. Neste entendimento, trata-se de estabelecer novos modus operandi que permitam melhor definição dos níveis de qualidade, dos objetivos de curto, médio e longo prazo, processos negociados de estabelecimento de metas.

Para alguns pode parecer uma posição conservadora, mas não vejo outra saída que não a negociação entre as partes. A construção do processo a partir do diálogo é mais difícil, exaustivo, demorado até, mas é o que consolida.

Tudo funcionará bem se os dois lados perderem o suficiente.

Parece uma afirmação insólita? Pode ser, mas observe à sua volta: o que de duradouro existe que não tenha sido através de um longo amadurecimento? Você verá que é tudo assim. Mesmo quando se trata de uma nova ferramenta de internet, por exemplo, sua consolidação se dá ao longo do tempo e a partir do esforço de muita gente.