quarta-feira, 31 de outubro de 2012

À mesa com as cebolas (1)

Quinoa - o grão do século


Sabe a vontade que temos às vezes de compartilhar experiências gastronômicas com os amigos?
Ora é um restaurante agradável, um prato deliciosamente bem feito, a atmosfera de determinado espaço por causa da decoração, a descontração da culinária de um chef, a carta de vinhos com preços assimiláveis pelos seres comuns.
Tudo isto é resultado de um fato único: as impressões de quem viu e saboreou com prazer um alimento bem feito.
O oposto disto também é verdadeiro. 
Quem não foi a um restaurante e odiou? Quem não detestou aquele molho branco com romãs azedo em excesso? Ou mesmo achou a coxinha macilenta, engordurada e teve vontade de sumir quando veio a conta?
Não é assim?
À mesa com as cebolas é um novo blog onde você pode entrar por aqui (sempre publicarei o Link) ou também segui-lo diretamente se os temas lhe agradarem. Nele escreverei sobre os lugares que visitei, pratos que merecem ser repetidos ou odiados para sempre, sem deixar de lado dicas de vida saudável com os alimentos. Afinal, seremos resultado do que escolhemos hoje, não é?
Agradeço desde já sua visita e seus comentários sempre que você achar pertinente. Ou mesmo suas próprias dicas. Quem sabe não inauguramos lá uma via de mão dupla interessante?

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Dilemas Contemporâneos da Cultura (82)

Dança-Henri Matisse-Museu Hermitage

Vejam se não tenho razão.
Há pouco tempo, vi publicado na imprensa regional que determinado diretor de determinado Museu, insistia em dizer à reportagem que aquela iniciativa com pouco mais de 1500 obras era o Louvre do Estado. Assim falou o Zaratustra da cidade e assim publicou o jornal que o entrevistou. Tivesse este a naturalidade de tratar o assunto com humor, o texto ficaria bem interessante.
Bobagem isto? O que tem de mal fazer isto?
Ora, o Museu do Louvre possui a segunda maior coleção de pinturas do mundo (perde apenas para o Museu Hermitage de São Petersburgo, Rússia) com 12.000 obras, com um acervo museológico total de 380.000 itens, dos quais 35.000 em exposição permanente.
A questão é simples: por que colocar em foco uma comparação que qualquer indivíduo razoavelmente informado consegue discernir sobre o seu despropósito? Esta necessidade de comparar o incomparável cria distorções que se perpetuam e esta é uma característica acentuada em várias direções e não se trata de um patrimônio exclusivamente daquele estado.
Ao que parece, estes arroubos de ufanismo regional, são fruto de certa incompreensão da importância de se fazer bem feito e deixar que o fato fale por si.
Um museu é importante, mesmo que seja feito apenas para contar a história de um bairro, os erros e acertos de uma família, os hábitos e costumes de uma comunidade, sem a necessidade de se vender comparando-se ao QuartierLatin, à família Kennedy ou ainda à civilização Maia.
Tudo isto se torna relevante quando vira piada como aquela velha história da pequena rádio do interior que diariamente é apresentada como “falando da pequena cidade para o mundo”.
As pessoas precisam perceber e negar isto. Não é mania regional. É doença enraizada.
Os estrangeiros gostam das nossas florestas porque são paisagens diferentes, com características diferentes e não porque não têm floresta na terra deles. Precisamos multiplicar isto, por mais simples que possa parecer. Faça o teste, pergunte para algumas pessoas e veja como são esdrúxulas as respostas.
Acabar com a megalomania de que temos o melhor isto ou o melhor aquilo é tão saudável quanto achar que é tudo pior isto, ou pior aquilo. Os dois extremos são péssimos.
Podemos viver muito bem olhando o que temos de bom, corrigindo o que é ruim e com simplicidade, delicadeza, generosidade consigo e com os outros.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Nota de Rodapé (19)

 Ruy Ohtake


Dia destes já no final da Rua Diógenes Ribeiro de Lima, em direção ao centro, vi, imponente, o edifício projetado pelo Ruy Ohtake. Magnífico, contraste retumbante com o céu azul daquela tarde.
Os exageros na adjetivação apenas lembram o que pensei quando vi o prédio com os vidros avermelhados naquela estrutura inusitada que se projetava algumas dezenas de metros acima do chão. Uma combinação instigante de curvas, projeções, vidros e cerâmicas.
Aí está um exemplo de construção que não envelhece e o que explica meu desejo (e necessidade) de me dedicar ainda mais ao estudo da arquitetura.
Alguns arquitetos como Ruy têm a coragem da ousadia.
Ou alguém duvida que, para colocar na estrutura de um prédio uma fruta como a carambola numa estilização implausível, não precisa de uma grande certeza do conceito? Ou ainda, construir um hotel cuja forma sugere uma grande fatia de melancia, tendo ainda na fachada algumas pareces retorcidas em concreto com uma leveza e habilidade construtiva pouco vista?
A contribuição de Ruy Ohtake para esta maneira de olhar os espaços é incomensurável e tudo se resume – sem a pretensão de reduzir – na vocação árdua de criar.
A obra de Ohtake me foi entregue pelo acaso quando buscava refletir um pouco sobre certas questões evidentes em eventos culturais Brasil afora e me questionava sobre a importância de continuar aqui, depositando certo tempo no comentar certas questões que para mim são Dilemas. Dilemas da Cultura.
Parei 1 ano. Pouco mais de 370 dias para ser mais preciso ou pelo menos 200 textos não escritos.
Descobri o que move esta contínua vontade de comentar, opinar e criticar: uma inevitável esperança de que a atividade cultural no Brasil se consolide de forma regular, perene, com os setores criativos interagindo de forma madura, com recursos de fomento compatíveis com excelência, com a formação realizada de forma profissional, contínua e com a correta franquia de direitos à população.
Estas inquietações estiveram presentes o tempo todo neste ano sabático. O acúmulo de bobagens entrelidas (como não existe a palavra no Aurélio, lembre-se de entreouvidas o que é quase a mesma coisa) me deixou várias vezes irritado pela impotência de não poder corrigir rumos tão previsíveis, ou propor um debate a respeito e, principalmente, não poder ouvir outros que conhecem melhor determinados temas e aprender com eles, juntar-me aos experts para modificar.
Fiquemos assim por hoje. 
Textos curtos. Textos curtos.